A primeira fogueira
A primeira fogueira
Ardeu dentro das palavras
As palavras estrangeiras
Na minha alma sem suspeitas
Viciada às facilidades
E ao aconchego do paraíso
A primeira fogueira
Ardeu dentro de mim
Com o fogo
Das palavras estrangeiras
Que ainda hoje
Queimam a aguardente
Em que lavo os olhos
Na esperança de atingir
O olho perverso da esfinge
O mistério
Que se vestiu de silêncio
E intervalos
A primeira fogueira
Ardeu em minhas mãos
E queimou a magia inocente
Que se escondia
Dentro da cartola
Do meu amor
Molhado de paraíso
A primeira fogueira
Acendeu nos meus ouvidos
Uma estranheza
Umas labaredas
Umas palavras lambendo
Fogo
A primeira fogueira
Ardeu na minha boca
E todas as minhas palavras
Tremeram
Engoli o fogo
O princípio do incêndio
A primeira fogueira
Queimou meus olhos
A visão do paraíso
A primeira fogueira
Queimou
Todas as camadas
Das minhas crenças
E queimou um tempo
E plantou o fogo
Dentro de mim
A primeira fogueira
Que ardeu dentro das palavras
Das palavras estrangeiras
Que tremeram em minhas mãos
Na minha alma sem suspeitas
Trouxeram a primeira visão
Dentro do fogo
A esfinge
Imune às labaredas
Que ardiam
Dentro das palavras
Que queimavam a minha alma
Com o mesmo sal
Com o mesmo fogo
Com a mesma chama
Com a mesma natureza
Do incêndio que iluminou
As palavras que me levaram
Para o paraíso
As mesmas
Que ardiam ali
Naquela fogueira
De palavras estrangeiras
Devorando a intimidade
Sagrada do meu amor
A primeira fogueira
Queimou as palavras
As que eram minhas
As que abriam
Os portões do paraíso
E que guardava o meu segredo
O fogo
O manto sagrado
Das suas palavras
Que eram minhas
Cobriam outra intimidade
De palavras estrangeiras
A primeira fogueira
Queimou as palavras
Que ainda hoje
Ardem naquelas cinzas
Que rodopiam dentro de mim
A esfinge move-se
Além do fogo
Que neste instante
Acende a fogueira das palavras
Em que queimo minhas verdades.
Goiânia, 30-03-2006.
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