Diálogos da Esfinge

Inicio aqui meus diálogos com a esfinge, afinando a escuta com o oráculo interior. Serei pergunta e resposta. Por vezes o silêncio, a lucidez e a loucura. Trocarei de papéis e de mistérios. Assim, caminho em direção à esfinge, despindo-me vagarosamente dos meus medos. E vou nua. Ao pé da esfinge, deposito o gesto e a intenção. Ergo os olhos e encaro o que me devora e não me apavora, nesse momento, essa fenda no abismo. Corro o risco da decifração. Eis-me aqui, nesses diálogos...

quinta-feira, março 30, 2006

Minhas palavras devoram



O seu silêncio devora minhas palavras de difícil digestão.
DEVORA!
Minhas palavras
De difícil digestão
DEVORAM
O seu silêncio
E devoramos o cálice
A gota
O ácido
Que encharca
Minhas palavras e o seu silêncio
DEPOIS
Daquelas palavras
Engolidas pela esfinge
O silêncio
O mistério
A interrogação
O ácido
Corrói a corda
À beira do abismo
Eu e a esfinge
Olho no olho
Olho por olho
Olho dentro do olho
A lágrima
Que cai e vibra
No fundo do que não vejo
Como um diamante
No fundo do cálice
Incendiando a terra do meu sonho
Por dentro
De onde a esfinge
Espreita
Minhas palavras
E o seu silêncio
À beira do abismo
Minhas palavras devoram o seu silêncio de difícil digestão
E a esfinge permanece muda.
Goiânia, 29-03-2006.