Diálogos da Esfinge

Inicio aqui meus diálogos com a esfinge, afinando a escuta com o oráculo interior. Serei pergunta e resposta. Por vezes o silêncio, a lucidez e a loucura. Trocarei de papéis e de mistérios. Assim, caminho em direção à esfinge, despindo-me vagarosamente dos meus medos. E vou nua. Ao pé da esfinge, deposito o gesto e a intenção. Ergo os olhos e encaro o que me devora e não me apavora, nesse momento, essa fenda no abismo. Corro o risco da decifração. Eis-me aqui, nesses diálogos...

quinta-feira, abril 06, 2006

O bicho que mora comigo



Olho
De dentro de mim
A zona de perigo
Espreito
O meu bicho
A fúria
A agonia
De dentro de mim
O olho me espreita
E me toca
Com fúria
O ferimento
Tento arrancar o olho
De dentro de mim
Em busca de paz
A paz de não ver
A paz de não sentir
A paz de não (res)sentir
Mas ELE espreita
De todos os lugares
Mesmo os mais secretos
Os que nem inventei ainda
E tem raízes fundas
Que nasceram comigo
Na primeira vez que me olhei no espelho
E reconheci o fogo que acendeu ali
O olho começou a tomar forma
E me acompanhou todos os dias
E foi me guardando em todos os olhares
E foi me embalando em camadas
As mesmas que me mostra agora
E exige compreensão
Com arrogância: decifra-me!
E que eu olhe de dentro de mim
E ordene as respostas
Das perguntas que nem ousei fazer
Das perguntas que esqueci nas ruas
Na pressa dos cruzamentos
Na insanidade das esquinas
Na alegria de viver o presente
Na sede dos encontros
Na intolerância dos desencontros
Na arrogância dos desenlaces
O que deixei em tudo isso
O olho recolheu
E exige que eu me veja
E decifre um novo tempo
Dentro de mim
E devore com alma
O bicho que criei
A CONSCIÊNCIA
Num longínquo dia de ESPELHO
O 0lho
Acordado
De todos os encantamentos
Calmo
Espreita comigo
De dentro da esfinge
E eu ainda tenho pedras nas mãos.
Goiânia, 6-4-2006.