A esfinge veio devagar
A esfinge veio devagar
Passos leves
E pegadas fundas
Na minha alma
Acordando um tempo
Mais antigo ainda
E profundo
De ver e de ouvir
E de tocar o passado
O tambor dentro de mim
A esfinge veio devagar
Num dia de crença absoluta
Ela pousou estranha
Na lucidez de um dia comum
E afundou os pés
Numa interrogação despretensiosa
E afundou âncora
E me levou pela mão
E pelo sentido contrário
A esfinge que veio devagar
Já vagava dentro de mim
Como uma noite anunciada
Sentia o seu hálito frio
Seus olhos invisíveis
Vasculhando a raiz
Dos meus pressentimentos
Umas mensagens soltas
Cutucando no fundo do meu olho
De dentro das minhas pálpebras
E sussurrava:
Abra, abra, abra...
Acorda, acorda, acorda...
E o tambor que vibrava dentro de mim
Marcava um ritmo de não-movimentos
Intervalos, silêncios e abismos
E negava
A porta
E negava
A chave
E negava
A fala
Do enigma
Que agarrava meus tornozelos
A partir daquele dia
O mergulho com a esfinge
Desatou o fundo de todas as perguntas
Que bóiam nas minhas palavras
As minhas palavras que cutucam
Os diálogos da solidão.
Goiânia, 31-03-2006.
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