Diálogos da Esfinge

Inicio aqui meus diálogos com a esfinge, afinando a escuta com o oráculo interior. Serei pergunta e resposta. Por vezes o silêncio, a lucidez e a loucura. Trocarei de papéis e de mistérios. Assim, caminho em direção à esfinge, despindo-me vagarosamente dos meus medos. E vou nua. Ao pé da esfinge, deposito o gesto e a intenção. Ergo os olhos e encaro o que me devora e não me apavora, nesse momento, essa fenda no abismo. Corro o risco da decifração. Eis-me aqui, nesses diálogos...

quarta-feira, abril 12, 2006

A lei da esfinge devora



Pulei a janela de um tempo
Pulei o muro de dentro
Pulsei dentro do templo
Pulsei aos pés da esfinge
Pulei noites do meu medo
Pulei dias do seu segredo
Pulsei e pulei nas duas pontas da corda
Pulsei e pulei todas as voltas
Saltei a janela, o muro, o templo
Soltei a fúria, o bicho, o olho
Desamarrei a espera e as perguntas
Desatei também o choro
Desfiz as crenças de um sonho raro
Recolhi meus delírios e minhas perdas
Revolvi tudo com a revolta dos atos inúteis
Rebusquei com palavras a essência
Rabisquei uma ponte num lugar sem horizonte
Desarmei as palavras de uma travessia longa
Desembaracei os passos de uma certeza dura
Refiz o trajeto da procura e da ausência
Reconduzi o olho como quem testemunha um crime
Recolhi a culpa e as roupas sujas
Retalhei camadas da minha pele
Desembrulhei a fúria do olho
Desenterrei a memória flutuante
Raspei na pedra crua a inscrição do enigma:
Decifra-me enquanto eu te devoro!
A lei da esfinge DEVORA
Não há negociação possível
O OLHO mira
O OLHO busca
O OLHO ENCONTRA
A minha fragilidade é ser forte
Aos pés da esfinge fico calma
E espero a leitura dos dias que virão.
Goiânia, 12-4-2006.